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Uma aposta na continuidade

Jornal do Commercio - PE, 01/08/2008, Marcos Toledo

Profissionais da cultura pernambucana anseiam pela implementação e aperfeiçoamento da política iniciada por Gil

A saída do ministro da Cultura Gilberto Gil do cargo, anunciada oficialmente ontem, repercutiu entre os profissionais da área em Pernambuco como aqueles acontecimentos que, apesar de inevitáveis e esperados, sempre causam surpresa em quem recebe a notícia. Artistas e produtores ouvidos pelo JC demonstraram um desejo de que o trabalho iniciado pelo cantor e compositor como titular da pasta tenha continuidade e que seja ampliado e aperfeiçoado por seu sucessor.

Após ter dois pedidos de demissão negados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Gil finalmente foi acatado. O músico baiano alegou necessidade de se dedicar mais à vida artística. Para o cargo está cotado o secretário-executivo da Cultura, Juca Ferreira, que assumiu interinamente.

Chefe da Representação Regional do Nordeste do Ministério da Cultura desde fevereiro de 2003, a produtora Tarciana Portella participava do Fórum dos Secretários e Dirigentes Estaduais de Cultura do Nordeste, em Maceió, quando soube da demissão de Gil. “Eu entrei (no MinC) praticamente com o ministro”, lembra Tarciana. “Estamos ainda de banzo com a saída dele. É uma grande perda, mas já era uma saída de certa forma anunciada”, conta.

A representante reforçou ainda a importância do cumprimento das metas pré-estabelecidas pelo ministro. “O importante neste momento é a garantia da continuidade das práticas públicas que estão sendo implementadas pelo Ministério”, diz.

Sobre a possível efetivação de Juca Ferreira no cargo, Tarciana também garantiu que isso não implicaria em nenhuma mudança significativa. “Não tem o que inventar”, acredita. “Na prática, Juca Ferreira já vinha (atuando) na distribuição de papéis”, explica a representante contando que, enquanto Gil fazia o levantamento das questões pertinentes às políticas culturais, cabia ao secretário-executivo fazer a amarração da política do Ministério cuidando do andamento da máquina.

Tarciana não poupou elogios ao ministro: “Existe um Ministério da Cultura antes e depois de Gilberto Gil. A contribuição dele ao MinC é incomensurável”. A representante também se mostrou contra as críticas feitas à atual gestão: “É lamentável a quantidade de calúnias que sai na imprensa sobre o ministro.” Entre as críticas, houve quem defendesse que o ministro não se empenhou para resolver a queda na venda de discos e que não houve evolução em determinadas áreas do setor durante sua administração, como por exemplo no teatro.

Para a presidente da Fundação Cultural do Piauí e atual presidente do Fórum dos Secretários, Sônia Terra, a notícia da saída de Gil do cargo foi recebida com tristeza. “Temos a convicção que a gestão de Gil é um marco histórico. Nunca se fez tanto pela cultura. A presença dele foi simbólica, histórica e referencial para a cultura”, afirma. Sônia acredita que o presidente Lula terá a sensibilidade para colocar no cargo alguém que dê continuidade à política desenvolvida por Gil.

Com ressalvas

No Recife, a produtora Paula de Renor conta que se surpreendeu com a administração de Gil. “Eu não esperava muito. Quando artista assume administração cultural, a gente fica desconfiada, pois sabe que artista não é bom administrador. E a gente teve exemplos que não foram muito bons”, diz, sem citar nomes. “Mas ele (Gil) foi respaldado, foi conquistando respeito e fez uma gestão que vai fazer falta.” Paula cita como exemplos positivos na atual gestão o avanço na regionalização de editais e a ampliação dos Pontos de Cultura. “Uma das coisas que ficou a desejar foi a reformulação da Lei Rouanet”, ressalva a produtora. “Alguns pontos foram reformulados, mas não o todo.”

De Brasília, o cineasta Paulo Caldas também elogiou os avanços do governo atual na área do audiovisual, mas também com reservas. “Apesar disso, a principal questão que se coloca é a destinação de verbas, o que não mudou. A cultura continua sendo um adereço chique para os governos. Não é uma atividade estratégica e não atinge o que pretende atingir. Se não houver um investimento estratégico, não vai para canto nenhum. É um desafio que cabe ao próximo ministro trabalhar”, considera.

O diretor do longa-metragem Deserto feliz acredita que o investimento na cultura deve ser mais amplo, não só de verbas para produção de obras, e cita como exemplo a aplicação de recursos em formação cultural como uma maneira de reverter a violência entre os jovens. “É uma arma importante que o governo não aproveita”, defende. Para o cineasta, o próximo ministro precisa “vencer o preconceito dos políticos brasileiros, que não enxergam a real importância estratégica da cultura para o País”.

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