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Arte na prateleira

O Globo, Segundo Caderno, em 06/01/2011

Com a produção contemporânea brasileira em alta, livros sobre artistas conquistam o mercado e atraem novas editoras

As prateleiras das melhores livrarias do país atestam: 2010 foi um ano profícuo para os livros de arte. Antes consideradas itens de luxo, as edições dedicadas ao tema têm se multiplicado entre editoras especializadas e não especializadas em arte, muitas delas recém-nascidas. Criada exclusivamente para as artes visuais, em 1997, a pioneira Cosac Naify se diversificou, ganhou a companhia da Barléu, em 2002 (até hoje apenas dedicada ao assunto), e hoje divide espaço com editoras como Cobogó, TIX, Vaivem e Circuito – voltadas para temas como arte, arquitetura e cultura contemporânea.

Para os novos editores e os que estão há mais tempo no setor, o aumento do interesse pelo assunto e a visibilidade internacional da arte brasileira são os principais motivos pelos quais as caprichadas publicações de arte, muitas bilíngues, ganharam popularidade.

- Existe um boom da arte contemporânea brasileira, não só no Brasil como no mundo – afirma Isabel Diegues, editora da Cobogó, criada com Ricardo Sardenberg, em 2008, para livros de arte e cultura contemporânea. – Cresceu o interesse das livrarias, e o livro se tornou um bom presente para quem gosta de arte mas não pode colecionar. Percebi isso no lançamento da edição sobre a Adriana Varejão. Hoje também há um interesse maior na ideia do livro, do conhecimento de maneira geral, com o surgimento de muitos locais de cursos, como a Casa do Saber, o Pop, a Escola São Paulo. O livro de arte vai nesse caminho.

O editor Carlos Leal concorda. Em 2002, ele criou a Barléu, um braço da Francisco Alves exclusivamente para livros de arte. Além de ver um crescimento gradativo do interesse pela arte contemporânea brasileira, ele considera que as mudanças na Lei Rouanet em 2010 agilizaram a aprovação dos projetos. No ano passado, a Barléu publicou um livro de fotografias e outro sobre a arte dos anos 80, e teve uma série de projetos aprovados pela lei para 2011, como edições sobre a artista plástica Cristina Canale, sobre artistas surgidos nos anos 90 e monografias de Iole de Freitas, Niura Bellavinha, Paulo Pasta e José Bechara.

- A Lei Rouanet foi fundamental para as artes plásticas no Brasil. Há 15 anos, a produção era desconhecida do grande público – afirma Leal. – Ainda há muitas lacunas, mas no ano passado melhorou muito, sobretudo o trâmite dos projetos. Hoje, eles são aprovados em cerca de quatro meses e podem ser acompanhados pela internet, o que dá mais transparência ao processo. Mas ainda precisamos de uma comunicação permanente com o Ministério da Cultura.

Para o editor, é inviável produzir publicações caprichadas, com boas imagens e impressão, sem que o projeto passe pela Lei Rouanet. Mas, apesar de ser o principal meio para conseguir financiar livros de arte, o incentivo fiscal concedido pela lei não explica por si só a variedade de edições que se veem nas livrarias. Segundo Isabel Diegues, o aumento das contrapartidas exigidas pela lei nos últimos anos – como mais exemplares a serem cedidos para bibliotecas – afasta certos patrocinadores, que preferem financiar espetáculos e exposições de maior publicidade.

Por isso, a Cobogó varia sua forma de produzir publicações, e vem travando parcerias com instituições, como no caso do livro sobre Rivane Neuenschwander, feito com o New Museum, em Nova York, onde a artista expôs no ano passado. O Ministério da Cultura não sabe exatamente quantos livros especificamente de arte foram contemplados pela lei nos últimos anos. Mas a demanda cresceu tanto no setor de artes visuais (foram 546 projetos apresentados em 2010, contra 308 em 2009) quanto no setor de edição de livros (1.107, contra 825).

- Estamos qualificando nosso sistema de busca de projetos para conseguir informações mais organizadas, relatórios mais precisos sobre a demanda, em que o ministério possa se basear para criar novas políticas para a cultura- afirma Henilton Menezes, secretário de Fomento e incentivo à cultura do Ministério da Cultura. – Também queremos oferecer esse sistema para as redes estaduais. O Rio já fez esse pedido.

Outra forma de financiamento que vem sendo usada pelas editoras são os editais da Funarte. Com a criação de um conselho editorial, em 2009, o órgão decidiu arriscar uma publicação mais ousada: o livro-caixa de Regina Vater, editado em parceria com a editora Aeroplano, e lançado em dezembro do ano passado. É o início de uma série de publicações editorialmente mais elaboradas.

- É um livro completamente diferente, um livro de artista. Ele é acondicionado em folhas soltas, numa caixa, não é encadernado. Não temos referência de um livro como esse nos últimos dez anos na Funarte  – afirma o diretor de Artes Integradas da instituição, Tadeu Di Pitero, responsável pelas Edições Funarte.

Criada em outubro de 2010, a editora Circuito, que já lançou livros de poesia e coleções sobre DJs e coletivos de arte, também foi beneficiada por editais da Funarte para realizar o livro “Passagem secreta”, sobre a artista plástica Brígida Baltar, e para o lançamento da revista de arte bimestral “Bola”, este ano.

- Existe demanda, porque a arte brasileira cresceu muito. Tenho vontade de fazer publicações bilíngues e para e-books, para apresentar a obra dos artistas com os recursos que a internet pode oferecer – diz Fernanda Gentil, diretora e uma das editoras da Circuito.

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