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Cinema de formação

O Globo, Segundo Caderno, em 05/07/2010

Novos filmes brasileiros tentam retomar o interesse do público infantil, construído no passado por Xuxa e Trapalhões André Miranda

A palavra mais usada por aí quando se fala em cinema infantil brasileiro é mantra. Um mantra é um termo da cultura indiana que, repetido de acordo com certos preceitos, tem uma finalidade mágica. É uma espécie de oração, que provoca alguma vibração e alcança o objetivo esperado. O mantra, para os produtores de filmes como “Eu e meu guarda-chuva” e “Tainá – A origem”, tem sido o mesmo e é compartilhado por todos aqueles que acreditam no potencial de um imenso nicho de mercado no Brasil: é preciso investir em produções voltadas ao público mirim.

Há 30 anos, os filmes infantis brasileiros eram garantia de sucesso, principalmente pelos longas-metragens dos Trapalhões.

Dados da Agência Nacional de cinema (ANCINE) mostram que, das 20 obras mais assistidas no Brasil desde 1970, 12 foram de Renato Aragão e sua turma, sendo que “O Trapalhão nas minas do Rei Salomão” (1977) ocupa o quarto lugar da lista, com 5,8 milhões de espectadores.

Já em vigésimo aparece mais uma marca responsável pelas espetaculares bilheterias do gênero: Xuxa e seu “Lua de Cristal”, que atraiu 4,2 milhões de baixinhos – e altinhos – aos cinemas em 1990. Assim como ocorria com os Trapalhões, os filmes da apresentadora obtiveram ótimos resultados. Mesmo o recente “Xuxa em O Mistério de Feiurinha”, de 2009, teve 1,2 milhão de espectadores, uma boa marca para qualquer filme brasileiro, de qualquer gênero.

- Houve um tempo em que os filmes infantis, graças ao Renato Aragão e à Xuxa, faziam públicos de quatro a cinco milhões de pessoas num ano. Acabamos deixando isso para trás. Hoje, os filmes infantis fazem 1,5 milhão de espectadores, se tanto – afirma Carlos Eduardo Rodrigues, diretor da distribuidora Globo Filmes, que planeja apoiar quatro produções infantis nos próximos meses, entre elas, “Quem tem medo de fantasma?”. – Além disso, a oferta ainda é muito inferior à demanda. No ano passado, tivemos dois filmes, “Xuxa” e “O Grilo Feliz e os insetos gigantes”, de um total de 80. No cinema de Hollywood, de 5% a 10% das produções são infantis, e elas correspondem a um quarto do faturamento da indústria. Eu acho que é fundamental para o cinema brasileiro desenvolver uma base mínima de filmes infantis.

Mais do que uma boa oportunidade de negócio, o investimento no cinema infantil serve para fidelizar um público em formação. A equação é bem simples: o guri sai de casa para o cinema, ganha uma pipoca da mãe, divertese com atores falando sua língua e depois pede para voltar em outro filme. E pede também no próximo, e em mais um, e assim vai até crescer, passar a se interessar por produções nacionais adultas e incentivar seus próprios filhos a ir ao cinema.

- Tenho percebido que o mercado voltou a olhar com mais interesse para esse segmento – diz Toni Vanzolini, diretor do infantil “Eu e meu guarda-chuva”, cuja primeira exibição está marcada para o Festival de Paulínia, no dia 17. – Os produtores, distribuidores e investidores se deram conta da necessidade de apoiar os filmes para crianças.

Se fizermos bons filmes, vamos ganhar esse mercado novamente.

“Eu e meu guarda-chuva” é baseado num livro do titã Branco Mello e mostra a fantasia de um trio de amigos que visita um colégio mal-assombrado à noite. O filme, bem diferente de outros do gênero, deve estrear em 8 de outubro: apesar de próxima do Dia das Crianças, a data é fora das férias escolares.

- Por um lado, não teremos as possibilidades de público que as férias oferecem, mas, por outro, não vamos disputar com os blockbusters americanos. A expectativa dos filmes infantis brasileiros não indica o caminho de blockbusters. A realidade não é essa – afirma Vanzolini.

A realidade é que, mesmo os últimos filmes de Renato Aragão, “O cavaleiro Didi e a princesa Lili” (2006) e “O guerreiro Didi e a ninja Lili” (2008), tiveram um desempenho aquém da alta média do Trapalhão: 742 mil e 647 mil espectadores, respectivamente.

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