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Biblioteca: lazer ou apenas obrigação?

Correio Braziliense, caderno Brasil, por Luiza Seixas e Rodrigo Couto, em 01/05/2010

Censo mostra que mais de mil municípios não têm um local público de leitura. Especialistas lamentam ainda que o caráter desse ambiente seja quase sempre ligado a trabalhos e pesquisas, em vez de estimular o prazer dos livros

O Ministério da Cultura divulgou ontem o 1º Censo Nacional das Bibliotecas Públicas Municipais, que tinha como objetivo traçar um perfil de todas as unidades para ajudar o órgão a aperfeiçoar as políticas públicas do setor. A pesquisa, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apresentou problemas sérios na área, o que acabou preocupando especialistas. Segundo eles, essa iniciativa do MinC deveria ter sido tomada antes e não só após sete anos de governo. Assim, seria mais fácil evitar o número considerável de cidades que ainda não têm essas bibliotecas – atualmente esse percentual chega a 20%, ou seja, 1.152 municípios – e realizar um trabalho para que as pessoas deixem de ver a ida às bibliotecas apenas como uma obrigação escolar e não como lazer.

Para a presidenta do Conselho Federal de Biblioteconomia (CFB), Nêmora Arlindo Rodrigues, mesmo que tarde, é preciso que o país encare o problema como “um desafio a ser superado”. Segundo Nêmora, além dos problemas já citados, o governo precisa dar uma atenção maior para a qualificação de quem trabalha nesses locais. A pesquisa mostra que apenas 57% desses profissionais têm ensino superior e 52% não têm capacitação para trabalhar como bibliotecário. “No entanto, faltam pessoas qualificadas para dinamizar essas bibliotecas. Precisamos que elas estejam organizadas, dinamizadas e sejam um centro de convivência. Só assim a comunidade será atraída e entenderá o local como um espaço seu, não só de estudo, mas também de lazer e de convivência”, destacou.

“Agora nada disso adianta, se os municípios não oferecerem bibliotecas de verdade, com espaços dinâmicos para as pessoas criarem o hábito, que tem que começar na infância. Se a família não tem esse hábito, se a escola e as bibliotecas não fornecem, como vamos conquistar essa rotina? Não tem jeito. Mas temos que lutar para não acabar com essa possibilidade”, protestou a presidenta da CFB.

A secretária de articulação do Ministério da Cultura, Silvana Meireles, afirmou que agora o órgão vai trabalhar para garantir pelo menos uma biblioteca em cada município e aumentar os investimentos no setor. E que o trabalho será feito no sentido de fazer com que a população veja a Biblioteca Pública Municipal não apenas para pesquisa escolar, mas aonde poderá se ter acesso a outras linguagens, entretenimentos, encontros e leitura. “É preciso mudar a mentalidade do gestor para chegar em um nível de excelência. É importante que haja uma conscientização de prefeitos, governadores, secretários para a importância da biblioteca.”

Para tentar ajudar a minimizar o problema, o ministério lançou ontem um edital para investir R$ 30,6 milhões em 300 mil bibliotecas. Qualquer município pode se inscrever, até 15 de junho, e encaminhar um projeto. “Pode ser para modernização, reforma, ampliação do acervo, programação cultural, implantação de bibliotecas ou de acessibilidade”, explicou.

No DF, onde elas estão?

» Biblioteca Pública de Sobradinho (Qd 08, Área Especial 5)

» Biblioteca Pública Municipal Lúcio Costa (Qd. 302 Lote 06)

» Biblioteca Pública Municipal Graciliano Ramos (C.E. 01 Acampamento Rabelo, Área Especial, Vila Planato)

» Biblioteca Pública do Gama (Salão de Múltiplas Funções, Setor Central)

» Biblioteca Pública do Núcleo Bandeirante (Pç. Padre Roque, 3.ª Avenida, s/n)

» Biblioteca Pública Municipal Machado de Assis (CNB 01 Área Especial, Taguatinga)

» Biblioteca Pública da Candangolândia (Rua dos Transportes, s/nº)

» Centro Cultural Rubem Valentim (Área Especial, Qd. 03, Cruzeiro Velho)

» Biblioteca Pública Municipal Carlos Drummond de Andrade (QNN 13 Área Especial, Ceilândia)

» Biblioteca Pública Municipal Professor Jadir Soares dos Reis (Pça. Central Lote 02)

» Biblioteca Pública Municipal Monteiro Lobato (Área Especial Alameda Veredinha, s/nº, Brazlândia)

» Biblioteca Pública Sebastião do Espírito Santo (Rua João Quirino Qd. 40 Lt. 21/2, Planaltina)

» Biblioteca Pública Municipal Braille Dorina Nowill (CNB 12 Área Especial, Taguatinga)

» Biblioteca Pública do Guará – Casa da CULTURA (Área Especial do Cauê, Guará II)

» Biblioteca Pública de Santa Maria (EQ 215/315, Lt-B, Santa Maria)

» Biblioteca Pública Lívia Barros (Área Central, 03, Lt-05, Riacho Fundo)

» Biblioteca Pública Inezil Penna Marinho (Qd 407 Área Especial, Samambaia)

» Biblioteca Pública de Brasília (EQS 312/313, Asa Sul)

» Biblioteca Pública Municipal Casa do Cantador (QNN 32 Área Especial G, Ceilândia)

Em Brasília, problemas

O Distrito Federal tem, atualmente, 20 bibliotecas consideradas municipais. Um número que, de acordo com a pesquisa, é baixo e representa apenas 0,76 unidade para cada 100 mil habitantes. Porém, segundo o censo, esses poucos centros estão conseguindo atender bem a população. O estado ocupa a 2ª posição no país em relação aos empréstimos de livros, com média de 559 por mês; lidera o acesso à internet, com 85% de locais que têm o serviço (a média nacional é 45%), e tem o maior número de funcionários qualificados. Mas, em relação aos serviços oferecidos para pessoas com necessidades especiais, ainda deixa a desejar. Apenas 10% estão preparadas para esse atendimento.

Apesar de contar com um telecentro com dez computadores – todos doados pelo Ministério da Ciência e Tecnologia -, a biblioteca da 312 /313 Sul não oferece qualquer serviço aos portadores de necessidades especiais. Entre os quase 50 mil títulos, não há nenhum adaptado ao sistema de linguagem braile, e os corredores, muito estreitos, impedem a circulação de cadeirantes. “Recebemos poucos deficientes. Como eles já sabem que existem duas bibliotecas preparadas no Distrito Federal (uma em Taguatinga e outra na 508 Sul), a frequência é muito baixa. No máximo, duas pessoas nessas condições vêm aqui para solicitar livros”, argumenta a bibliotecária Daniela dos Santos.

Dos 10 funcionários do local, cinco têm curso superior, sendo três com especialização na área. O número de profissionais com graduação é um reflexo da situação do Distrito Federal, que fica atrás apenas do Acre em relação à escolaridade desses trabalhadores. Os livros de línguas estrangeiras e o telecentro são alguns dos motivos que fazem a estudante Camila Emily, 21 anos, frequentar a biblioteca três vezes por semana. “Além de poder consultar os livros para subsidiar minhas aulas de italiano, francês, inglês e espanhol, utilizo o computador na preparação das apostilas para meus alunos. Como não tenho computador em casa, também aproveito para responder meus e-mails daqui”, explica. (LS)

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