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Uma atriz meio socióloga

Carta Capital - SP, Ana Paula Sousa, 22/06/2008

A mostra, espécie de aperitivo ao Ano da França no Brasil, em 2009, reúne oito títulos de feitios diversos

País-símbolo da resistência da produção além-Hollywood, a França terá parte de suas imagens condensadas na primeira edição do Panorama do Cinema Francês, em cartaz em São Paulo e no Rio até a quinta-feira 26.

A mostra, espécie de aperitivo ao Ano da França no Brasil, em 2009, reúne oito títulos de feitios diversos. Há desde o vencedor do prêmio da crítica no Festival de Veneza de 2007, O Segredo do Grão, até o badalado O Escafandro e a Borboleta. Todos os filmes (a programação está disponível em www.panoramadocinemafrances.com.br) estrearão no circuito nacional.

Mas, no Panorama, contam com o charme da apresentação a cargo de diretores e atores convidados e, vistos em bloco, nos ajudam a identificar os caminhos da cinematografia francesa. Uma das atrizes a desembarcar por aqui é Ariane Ascaride, protagonista de Lady Jane, parceira do politizado diretor Robert Guédiguian (de A Cidade Está Tranqüila e Os Últimos Dias de Mitterrand, entre outros) e figura de proa do cinema e do teatro independentes.

CartaCapital: Os filmes do Guédiguian costumam ter ótima recepção crítica no Brasil, mas nem sempre circulam pelo mundo ou fazem sucesso na França. A que a senhora atribui essa identificação?

Ariane Ascaride: Temos um ótimo distribuidor e muitos de nossos filmes foram lançados no Brasil. Me parece que existe uma ótima relação entre o cinema de autor que defendemos e a crítica brasileira. Tenho a sensação de que, na América Latina, há melhor compreensão do que queremos dizer do que na Europa. Na Argentina, já encontrei o que poderia chamar de o espectador ideal, que parece compreender tudo. Isso talvez aconteça porque vocês estejam mais ligados às questões sociais que discutimos do que os europeus.

CC: A senhora faz, quase sempre, papéis de mulheres do povo, lutadoras, operárias. É uma opção ou um destino?

AA: Não sei (risos). Mas acabei de fazer um papel, no teatro, de uma grande burguesa. O destino pode mudar de rota, de tempos em tempos. Mas é verdade que os diretores me vêem, com mais freqüência, como uma mulher popular. Também há filmes e peças que me atraem mais. E, sim, me interessa falar da classe trabalhadora.

CC: Seria uma maneira de manter os sonhos dos tempos da escola de sociologia, quando a senhora e Guédiguian se conheceram?

AA: Quem sabe? Nunca me interessou fazer uma carreira, mas sim defender filmes ou peças pelo tema, pelo seu sentido. Atuar, para mim, é um jeito de viver, mais do que um trabalho. A arte é um espelho que nos permite uma reflexão sobre o tempo no qual vivemos. Eu não diria que trabalho com diversão. Estou aqui para emocionar, fazer rir e chorar, mas também para fazer refletir. Nesse sentido, mantenho os sonhos de socióloga.

CC: O sistema de produção francês continua sendo eficaz para o cinema de autor?

AA: É um sistema genial, implantado em 1946, graças ao qual o cinema independente resiste, apesar de menos forte do que antes. É preciso estar vigilante, porque, como em todos os lugares, o cinema hollywoodiano avança aqui, mas ainda há muita gente disposta a defender a exceção cultural, a identidade das nossas imagens.

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