Os pequenos cegos franceses têm agora a oportunidade de conhecer melhor a cultura pernambucana
Inspirada por sua experiência com crianças cegas no Brasil, a escritora Mariangela Valença inicia hoje o lançamento e divulgação do seu livro Aula-espetáculo: 100 anos de frevo na França. A obra, que é o primeiro registro escrito em braille sobre o frevo, foi traduzida para o idioma francês e será entregue em instituições que trabalham com deficientes visuais, além de bibliotecas públicas. Os pequenos cegos franceses têm agora a oportunidade de conhecer melhor a cultura pernambucana. O livro também é pioneiro ao ser publicado inicialmente em braille antes da versão impressa a tinta.
Mariangela vai doar 20 exemplares em francês especialmente publicados no sistema de leitura com o tato para cegos. “O livro é um documento importante sobre a história do frevo e proporciona uma leitura lúdica e educativa para as crianças cegas, que não possuem tantas publicações adaptadas às suas necessidades”, diz a autora. Bailarina, psicóloga e produtora cultural, ela ministra ainda hoje a primeira de uma série de oficinas de frevo, na Casa de la Cultura de la Seine-Saint-Denis, na Grande Paris. Mariangela também acompanha dois espetáculos da Spok Frevo Orquestra, junto ao bailarino Paulo Cristo.
A idéia da viagem surgiu após um encontro com o vice-prefeito de Paris, Jean Pierre Guis, que esteve no Recife em maio por conta de eventos relacionados ao Ano da França no Brasil (2008). O político auxiliará a escritora na distribuição do livro em instituições que trabalham com cegos em toda a França.
O projeto é um desdobramento do livro em braille lançado em janeiro, na Livraria Cultura, que teve metade dos exemplares – impressos com recursos do Fundo Pernambucano de Incentivo à Cultura (Funcultura) – doados a instituições que trabalham com deficientes visuais no Estado e em todo Brasil. A tradução para o francês foi realizada pelo professor Wilton Soares.
Após uma experiência com pequenos surdos que dançavam ao ritmo do frevo, Mariangela Valença passou idealizar um projeto voltado para crianças especiais. “Quando veio a idéia do livro, pensei imediatamente em publicá-lo em braille”, diz a autora, que dedica sua primeira experiência como escritora às crianças entre 6 e 11 anos de idade.
Aula-espetáculo: 100 anos de frevo destaca os elementos e percursos do frevo, em forma de romance. A capa, a contracapa e a folha de rosto são ilustradas por Ítalo Cajueiro. “Não é porque a criança é cega que ela não deve ter um livro bonito. A ilustração é uma forma de integrar”, esclarece Mariangela. A história é narrada em terceira pessoa e possui um caráter fortemente autobiográfico. Mariangela é Marifrevo, uma professora de escola pública do Recife, e Stefane Capibaribe da Silva, de 11 anos, e Andrey José Arrecifes, de 10 anos, são seus alunos. Juntos, esses personagens conduzem a narrativa.
A iniciativa faz parte de um projeto maior de divulgação e ensino do frevo, que a autora já vem desenvolvendo desde o ano 2000, com suas aulas-espetáculos. A versão em português impressa a tinta deve ser lançada no final deste ano com o apoio da Prefeitura do Recife.
Participação do Leitor