Lisboa, 17 abr (Lusa) – O acordo ortográfico e a aposta de criação de museus no Brasil foram alguns dos temas abordados pelo ministro da Cultura, Gilberto Gil, em Lisboa, na quarta-feira, ocasião em que recebeu um título honoris causa em Museologia, atribuído pela Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias.
Colocando uma nota de humor em seu discurso, o ministro disse não saber se estava sendo “distinguido” ou distingüido”, aludindo a uma controvérsia sobre o abandono do trema na ortografia brasileira após a entrada em vigor do acordo ortográfico.
No evento, Gilberto Gil considerou que, “ao levar as pessoas a discutirem a língua, o acordo ortográfico já está prestando um grande serviço”.
Em declarações aos jornalistas antes da abertura da cerimônia, Gilberto Gil falou também do que mudou em sua vida quando passou a conciliar a vida de músico com o cargo político que ocupa.
“Ser ministro me obriga a acordar mais cedo, a ter ocupações formais com atividades administrativas e representativas, a prestar regularmente contas ao público e a participar em discussões internas no governo, por exemplo, para decidir onde devem ser investidas as verbas”, contou.
Na sua intervenção após receber a medalha e o diploma, o recém-doutor honoris causa optou por falar dos museus e da museologia, assegurando que eles ganharam “um lugar importante” no seu coração.
“Os museus podem redimensionar o ambiente humano no território brasileiro”, afirmou o ministro, referindo o caso de Iberê Camargo, pintor brasileiro do século 20 que vai ter um museu em Porto Alegre.
Também presente na cerimônia, o ministro português da Cultura, José António Pinto Ribeiro, destacou o fato de Gilberto Gil “fazer com paixão aquilo que gosta, deixando, assim, uma cicatriz no mundo e na língua portuguesa, que é o seu transporte, o seu veículo”.
“Aquilo que nos une e faz de nós aquilo que somos é essa pátria comum que é a língua portuguesa”, afirmou ainda José António Pinto Ribeiro.
A sessão contou também com a intervenção de Manuel de Almeida Damásio, presidente do conselho de administração do grupo Lusófona, e de Alípio de Freitas, presidente da Associação José Afonso.
Elogios
Descrevendo o homenageado como “uma personalidade marcante do espaço lusófono e do mundo contemporâneo”, Manuel de Almeida Damásio adiantou que o músico e ministro “equilibra, como poucos, a intervenção artística com a intervenção política”.
Recordando o ativista que “apelou à conscientização contra a seca no nordeste brasileiro nos anos 80 e que hoje se bate pelo software livre”, o presidente do conselho de administração do grupo Lusófona, considerou que, “na pessoa de Gilberto Gil, é possível ver um Brasil moderno e pujante e uma sociedade multicultural”.
Já Alípio de Freitas considerou Gilberto Gil “o expoente máximo da música popular brasileira” e falou no papel que o músico tem desempenhado enquanto ministro da Cultura.
“Gilberto Gil já fez surgir mais de 2.500 novos museus”, estando outros em vias de serem criados, “como em favelas e assentamentos dos sem-terra”, afirmou o responsável português.
Designando o homenageado por “velho companheiro de jornada e de lutas” e elogiando suas “qualidades de cidadão e de batalhador por uma sociedade mais respeitadora do homem e dos seus direitos”, o presidente da Associação José Afonso ofereceu a Gilberto Gil a obra completa do cantor de “Grândola, Vila Morena”, também ele “um grande exemplo de cidadania e de homem solidário”.
A sessão contou ainda com diversas intervenções musicais pelo Coro da Universidade Lusófona e com a leitura de um poema que Mário Chagas, professor universitário no Brasil e em Portugal, escreveu especialmente para a ocasião.
Participação do Leitor